População de Ilhabela se mostra contrária a decisão em audiência pública
quarta-feira, 22 de agosto de 2012Com expressiva participação da sociedade, a Câmara Municipal de Ilhabela realizou na última sexta-feira, audiência pública para discussão sobre projeto de Lei que prevê a autorização para construção de garagens subterrâneas para estacionamento de veículos no município, de autoria do vereador afastado, Jadiel Vieira (Keko-PPL).
O debate foi proposto pelo vereador Rogério Ribeiro de Sá (Professor Catolé – PV) com o intuito de sanar duvidas levantadas pelos demais vereadores, em relação a aprovação ou não aprovação do projetos, além de atender solicitação do Instituto Ilhabela Sustentável (IIS). Cerca de 80 pessoas, entre membros da sociedade civil, secretários e turistas estiveram no plenário do Legislativo, demonstrando notória insatisfação com a propositura, já que entre os comentários, muitos foram diretamente voltados para a degradação ambiental e pela verba que seria gasta para a execução do projeto.
O vereador Professor Catolé formou a mesa de debates com os pares Valdir Veríssimo de Assunção (Professor Valdir – PPS), Valdir Marcelo dos Santos (Marcelo – PPS), Gilmar Nascimento dos Santos (Mazinho – PTB); o presidente do Instituto Ilhabela Sustentável (IIS), Georges Henry Grego; os secretários municipais Flávio Miranda (Obras), Harry Finger (Turismo e Fomento) e Edvaldo Anízio da Silva (Meio Ambiente) e presidente da Associação Amigos e moradores do Engenho D’água, Antônio Lopes. Em discurso breve, Catolé iniciou os trabalhos ressaltando que o objetivo principal da audiência era ouvir a opinião da população.
Em seguida o par fez a leitura do projeto que em seu texto determina que “fica autorizada a construção de garagem subterrânea para estacionamento de veículos, a serem implantadas em áreas comerciais e privativas no município de Ilhabela, de acordo com a viabilidade técnica da localização e nos termos do Plano Diretor do Município de Ilhabela”. Após a leitura, Catolé deu a palavra ao público presente. No entanto, antes do início da discussão, o presidente do IIS, Georges, quebrou o protocolo para ressaltar que o projeto apresentado é vago e não deixa claro o seu objetivo: “Muito do que está no projeto, já é permitido. Não conseguimos iniciar um debate sem ter uma base. Esse projeto de autorização deve estar ligado a um outro projeto especifico e gostaria que o representante do Poder Executivo nos explicasse para que possamos discutir o assunto”.
Diante da indagação do presidente do Instituto, o secretário de Obras, Flávio, garantiu que não existe nenhum projeto para esse fim e que a propositura partiu do Legislativo. Ainda de acordo com Flávio, a construção de garagens no subsolo já está prevista no Plano Diretor do Município.
Dando a palavra aos munícipes, o primeiro a se manifestar foi Flávio Vicentini, também do IIS, que expos que em reunião com o prefeito na última semana, o chefe do Executivo deixou claro que o objetivo do projeto em questão, era a construção de uma garagem subterrânea no Esporte Clube Ilhabela, para atender o futuro receptivo de navios: “Agora, o projeto em tela fala da construção em área privativa ou comercial. Onde está a parte que trata de área pública? Estou presenciando duas situações. Qual é a realidade?”, indagou.
Também presente na audiência, o vereador Erick Pinna Desimone (PSDB) salientou seu posicionamento contrário ao projeto: “Nunca tive dúvidas. Desde o inicio fui contrário a proposta, pois sei que não irá favorecer a população. O custo de uma obra como esta é muito alto e esses estacionamentos serão caros e nem todos poderão pagar. Eu mesmo não me imagino chegar na Vila e ter que pagar por um estacionamento subterrâneo”. Segundo o par, existem alternativas como bolsões de estacionamento e um transporte público descente.
Turistas também se pronunciaram contra ao projeto e declararam que o visitante que gosta de Ilhabela quando vem para a cidade quer andar a pé, de bicicleta e não vem atrás de garagens subterrâneas: “O turista que é favorável a essas construções, não é o turista que Ilhabela precisa”.
Gilda Nunes se manifestou lembrando que a construção de garagens subterrâneas poderia caracterizar o terceiro pavimento, proibido na cidade. Gilda salientou que o maior problema de estacionamento em Ilhabela, está na orla, onde o lençol freático é muito baixo e além da degradação, uma obra neste local custaria de três a quatro vezes mais cara: “Tudo é possível da engenharia, mas com certeza trará problemas”.
O professor Ângelo Leme Cavalheiro fez uso da palavra e se mostrou indignado com a proposta: “Estamos caminhando na contra mão da lógica. Será que precisamos ‘desenhar’ para que entendam que é um não que estamos dizendo aqui?”. Ângelo ressaltou estar decepcionado em presenciar uma reunião com o prefeito municipal, onde, segundo ele, os jovens foram ‘massacrados’ por ideias estúpidas e sem interesse comum. “Precisamos desmascarar esse jogo. Um maluco nos colocando arbitrariamente casa, passeios públicos, fontes, calçadas e ciclovias que não levam a lugar nenhum, que estão comendo nossas árvores. Chega”, enfatizou o professor.
O presidente do IIS, Georges, no fim dos trabalhos, pronunciou-se ressaltando sobre a realização de estudos: “Há cerca de um ano e meio, solicitados ao Poder Público que destinasse uma parte do orçamento para que fosse realizado um Planejamento de médio e longo prazo para Ilhabela. E decidirmos qual a cara que queremos para nossa cidade. Nada é caro demais para termos uma Ilhabela planejada. Mas, o pedido não foi levado a diante”. Georges ainda salientou que o Instituto não é contra o progresso, mas se deve colocar em duvida uma cidade entupida de automóveis, que desconsidera o transporte público. Em relação as construções subterrâneas, o presidente relatou que devido as condições geográficas da orla de Ilhabela, cada vaga para carro, custaria para o Município, cerca de R$70 mil e a construção de 250 vagas, R$17 milhões. “É nisso que queremos aplicar todo esse dinheiro? Será mesmo que não existem outras prioridades? Colocaremos em risco construções centenárias?”. Georges expos alternativas para solucionar o problema de estacionamento como, por exemplo, a implantação de bolsões, um transporte público com qualidade, uso da ciclovia e ainda o transporte aquaviário.
Por fim, o realizador da audiência, vereador Catolé declarou não ter dúvida que depois de todos os apontamentos, os vereadores serão contrários a proposta. O par ressaltou que a Câmara trabalha junto ao interesse do povo: “Hoje, vocês deram um show de cidadania e espero que essa ação sensibilize o prefeito. O projeto realmente é ruim. Mas, podemos reverter situações. Temos essa força”, finalizou o par que relembrou a realização de outra audiência pública, nesta terça-feira, 21, às 19 horas, para tratar sobre o gerenciamento de podas, resíduos da construção civil e coleta seletiva do município.
O final da discussão foi marcado por um “coro” puxado pelo professor Ângelo, dizendo NÃO ao projeto.
Ainda estiveram presentes, o vereador Roberto Lourdes do Nascimento (Timbada – PSDB), a secretária municipal de Educação, Lídia Lucia Sarmento e muitos munícipes e turistas interessados. O presidente da Casa, vereador Carlos Alberto de Oliveira Pinto (Carlinhos – PMDB), encaminhou ofício justificando ausência.
Fonte: O Noticiado
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